sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Aqui

Imagem: sobre uma fotografia de Katia Shausheva

Como são as coisas quando ninguém as vê? Mas às vezes o nosso olhar parece nada acrescentar, nada excluir: como se não estivéssemos lá, as coisas mostram-se sozinhas, terríveis na sua apresentação nua. Revelação intacta da beleza, que é o grito mutilado dos anjos.

Às vezes as coisas param, e assim é o mistério do tempo: este instante não esteve sempre aqui. Mas as coisas paradas chamam coisas, onde devia haver um gesto há o silêncio; e levanta-se dos interstícios do mundo uma avidez que é embrião de demónios.

Se as almas forem embora as coisas gritam.


9 comentários:

Ruela disse...

Será que as coisas se mexem quando não estamos presentes?



...




Abraço.

Jo disse...

Agora fizeram-me lembrar aquela pergunta "Se uma árvore cai na floresta e não está lá ninguém para ouvir, ela produz som?"...


(Também creio nos gritos...)

beijo*

Casimiro Ceivães disse...

Mexem, Ruela. Ainda ontem fechei os olhos cinco minutos e o ponteiro do despertador avançou oito horas :(

Mariazinha, pois.... No fundo - que terríveis sons, que tremendas coisas ouviríamos, se estivéssemos inteiramente presentes? Se fôssemos uma coisa entre as coisas. Se pudéssemos ouvir o negro, em vez de apenas o ver.

Abraço e beijo

Ruela disse...

Pois ;)

Fata Morgana disse...

Oh as coisas quando ninguém as vê são mais verdadeiras, mais "revelação intacta" em si mesmas.

O nosso olhar acrescenta e exclui... O meu acrescenta às coisas que vejo "a coisa que eu sou" e é quase cego para a fealdade. Quantas vezes não vejo as coisas feias (e isso me deixa em perigo)!

Sim, as coisas paradas... e os gestos que não há ou estão desfasados.

E as almas que quando ninguém as vê se sentem "sozinhas (...) na sua apresentação nua"... e gritam,
mas só os demónios lhes respondem.

Beijo.

Casimiro Ceivães disse...

Oh Morgana, pois.

E nesse grito uma espécie de tempo parado: "esta alma não esteve sempre aqui".

Beijo*

Frankie disse...

Isso agora lembrou-me o Chucky... O Cucky e um dos livros daquela colecçãozeca que eu devorava quando era miúda (os Arrepios) que se chamava "A Noite do Boneco Vivo" :P

Beijo*




PS: Tu devias correr-me do teu blogue à vassourada! Tens tu um espaço recheado de textos profundos e fora -tão fora- do comum e eu entro de rompante por aqui dentro, ainda por cima acompanhada de marionetas daquelas que não precisam de fios para se moverem...

Casimiro Ceivães disse...

Ora. Eu fui assombrado pelo Pinóquio, que era bem mais medonho.

Beijo, Frankie *

Ana Beatriz Frusca disse...

Quando ninguem vê o que se passa, o fato não é fato, é abstração, mas o que se sente a partir daí é concreto, ou não...rsrss.
2dão, tu também devia correr-me do teu blog...JAJAJAJAJAJA!

Beijos.